domingo, 25 de abril de 2010

O compadre Lobo e a comadre Raposa

Era uma vez um lobo. Era uma vez uma raposa. Os dois eram compadres e davam-se bem.
Um dia, encontraram um carneiro perdido do rebanho e mataram-no.
O lobo queria logo comê-lo, mas a raposa disse que não tinha fome. Que era melhor ficar para amanhã, que já os dois teriam mais fome e lhes saberia melhor a refeição. O lobo concordou.
Enterraram o carneiro, deixando-lhe o rabo de fora.
No dia seguinte, o lobo foi à casa da raposa, chamá-la para irem comer o carneiro. A comadre disse que não podia ir, que tinha um convite para um baptizado e não podia faltar. Que ficava para amanhã.
A raposa foi ao sítio onde estava o carneiro. Desenterrou-o e comeu o que lhe apeteceu. Voltou a enterrar o resto, com o rabo de fora.
Mais tarde, o lobo perguntou à raposa como se chamava o afilhado. Ela disse que se chamava Comeceio.
No outro dia, o lobo voltou a chamar a raposa, para irem comer o carneiro.
A raposa disse que tinha muita pena, mas hoje também não podia ir. Que tinha recebido outro convite para um baptizado. Ficava para amanhã, o compadre que não levasse a mal.
O lobo não ficou muito contente, mas não se queria zangar com a raposa. Disse que estava bem.
A matreira raposa voltou ao local do repasto. Desenterrou o carneiro, comeu o que lhe apeteceu e voltou a enterrar o resto. Deixou novamente o rabo de fora.
Nesse mesmo dia, o compadre lobo perguntou-lhe como se chamava o afilhado. Ela disse que se chamava Meeio.
Ao terceiro dia, o lobo já andava bastante esfomeado. Chegou de manhãzinha à casa da comadre, para irem comer o carneiro.
A raposa disse ao lobo que até nem sabia como lhe dizer isto, mas a verdade é que tinha mais um convite para um baptizado. Que era o filho de uns amigos, a quem não podia dizer que não. O compadre que desculpasse. Prometia que amanhã iriam de certeza, que se recebesse outro convite para um baptizado o recusaria.
O lobo lá concordou com ela, desculpou-a e disse que então ficava para amanhã.
A raposa foi novamente ao sítio onde o carneiro estava enterrado. Desenterrou-o e comeu o que dele restava. Só ficou o rabo.
Ela voltou a por o rabo do carneiro com a ponta de fora, como se o resto do corpo estivesse enterrado.
Mais tarde, nesse mesmo dia, o lobo e a raposa encontraram-se. Ele perguntou-lhe como se chamava o afilhado. Ela disse que se chamava Acabeio.
No dia seguinte, quando o lobo chegou a casa da raposa, ela disse-lhe que não podia ir com ele. Que com tantos banquetes de baptizados, ficara tão mal disposta que o médico a tinha posto a chá. Que tinha de fazer uma rigorosa dieta e não podia comer carne. Que fosse o compadre sozinho, não valia a pena deixar-se estragar um carneiro daqueles só por ela estar doente.
E o lobo foi só. Pelo caminho, ia antecipando as delícias do manjar que o esperava. Nem conseguia decidir por onde começaria, se por a cabeça, se por os pés.
“Vou comer até fartar”, ia pensando ele, enquanto caminhava ligeirinho. Estava cheio de pressa e de fome.
Quando chegou ao tão ansiado local, ao ver o rabo do carneiro de fora começou logo a babar-se. Tinha tanta, mas tanta fome…
Agarrou o rabo e puxou com força, para desenterrar o carneiro de uma vez só. Caiu para trás, pois fez força a mais para uma coisa tão pequena.
Deitado no chão, com o rabo do carneiro na mão, finalmente percebeu a história de tantos baptizados que a comadre raposa tivera.
Havia sido enganado por ela.

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